Perda dos vínculos que ligam pai, mãe e filhos vem ocasionando o aumento de casos de transtornos emocionais em crianças e adolescentes
A equipe da Clínica de Pediatria “Carlos Azambuja Leão Júnior”, também conhecida como Clínica da Criança da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Três Lagoas, há tempos, vem desempenhando uma de suas mais importantes finalidades de atenção à saúde mental da criança e do adolescente, especialmente, na terapia de casos de automutilação e de ideação suicida.
Nessa equipe, coordenada por Alexandra Nunes de Souza, três profissionais da Saúde, psicóloga Daniela Pereira Brito, psicólogo Gilmar Lucas da Silva e psiquiatra Marcos Antônio Gulla Marques, trabalham no atendimento de transtornos mentais em crianças e adolescentes.
No segundo semestre de 2018, mais de 60 pacientes, entre crianças e adolescentes, foram atendidos e divididos em três grupos de tratamento, conforme seus respectivos problemas ou necessidades terapêuticas, ou seja, com tendências de automutilação, ideação suicida ou depressão.
Como explicou a psicóloga Daniela Brito, o maior número é de adolescentes, mas os problemas, apesar de raros, também são percebidos em crianças.
No decorrer do processo de tratamento, “é importante o trabalho integrado com participação motivada do terapeuta, do adolescente e seus respectivos pais”, ressaltou Daniela.
A psicóloga da Clínica da Criança informou que o processo de tratamento consiste na programação de ações de psicoterapia breve que se estendem por uns três meses, seguindo procedimentos direcionados especificamente ao indivíduo, no caso, o adolescente, ao grupo (automutilação, ideação suicida ou depressão) e também ao grupo com sua respectiva família.
ENCAMINHAMENTO
Quando os pais, educadores ou responsáveis identificam algum comportamento, que levante suspeita de automutilação, ideação suicida ou depressão, devem procurar ajuda imediata na Unidade de Atenção Básica de Saúde (Postinho) mais próxima de sua residência ou diretamente na Clinica da Criança, na Rua Egídio Thomé, S/N, no Bairro JK.
“Procuramos, em primeiro lugar, conversar com os pais para tentarmos identificar qual a demanda que esse adolescente necessita. Identificada a demanda, inserimos o adolescente no tratamento”, explicou a psicóloga Daniela.
Para tanto, identificados os motivos, “procuramos quebrar resistências, criando laços de empatia e sensibilidade com o adolescente e sua família”, ressaltou.
MOTIVOS
São inúmeros os motivos que levam o adolescente à prática de automutilação, ideação suicida ou depressão. A experiência dos profissionais da Saúde, que tratam desses casos, revela que 80% dos casos possuem motivações emocionais e apenas 20% são causas patológicas.
Essas motivações emocionais que acabam provocando sérios problemas nos nossos adolescentes têm como sua principal causa a estrutura e conceito da família contemporânea sobre o significado e papel das figuras do pai, da mãe e dos filhos.
“Vivemos hoje um modelo diferente de família, em que o pai, a mãe e o filho, infelizmente, perderam os tradicionais e saudáveis vínculos emocionais que alimentavam e fortaleciam as relações familiares”, ressaltou a psicóloga Daniela.
A falta de diálogo e de compreensão e as relações afetivas, a cada dia mais distantes na família moderna, levam o adolescente a sentir carência afetiva e apoio no enfrentamento da vida.
“Os pilares das famílias, com seus papeis e regras estabelecidos e até então bem definidos, de pai, mãe e filhos, estão sofrendo mudanças decorrentes da vida moderna, de separações e constituição de nova família, ocupações, trabalho, emprego, mudanças de conceitos e ruptura de valores”, comentou a profissional da SMS.
“Os problemas se agravam quando os filhos percebem que seus pais não têm mais tempo para eles. E o processo de cura e do restabelecimento da normalidade começa quando o pai e mãe também querem tirar seu filho ou filha desse sofrimento, antes que seja tarde”, orientou a psicóloga.
Por esses motivos, “nosso trabalho obtém resultados positivos, quando os pais e seus filhos tomam consciência da necessidade de reavaliação da família, recuperação de valores e conceitos de autoridade, incluindo a importância do uso do “não” como importante instrumento de educar”, concluiu Daniela Brito.