Cerca de 1.000 cães de regiões específicas dos bairros Vila Alegre, Santa Rita e Santa Julia, participarão, a partir do dia 15 de agosto, da implementação de mais uma ferramenta no combate e controle das leishmanioses visceral promovido pela Prefeitura de Três Lagoas, Secretaria de Estado de Saúde (SED) e Ministério da Saúde que visa implantar coleiras impregnadas com deltametrina no combate à Leishmaniose canina. O município será um dos primeiros do Estado de MS, junto de Corumbá e Campo Grande, a realizar a ação.
A iniciativa é do Ministério da Saúde, que firmou convênio com um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em parceria com Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para se chegar à solução prática de combate e controle da Leishmaniose no Brasil. Em Três Lagoas, será promovido pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio da Coordenação de Endemias, Entomologia e Centro de Controle de Zoonoses (CCZ).
MONITORAMENTO PRÉVIO
O Setor de Entomologia da SMS, em parceria com o Núcleo Regional e Estadual de Entomologia, bem como o Gerencia Técnica Estadual de Leishmaniose e Setor de Entomologia Nacional, vem realizando no Bairro Vila Alegre, um dos três que vai receber o Encoleira Cão, um estudo há mais de 1 ano que visa monitorar, por meio de armadilhas CDCs, os locais, tipos, sazonalidades e distribuição dos mosquitos naquela região.
Desse modo, o bairro foi dividido em duas regiões, uma de controle e outra de intervenção, onde 10 casas em cada região (somando 20 no total) foram selecionadas para receberem a instalação das armadilhas.
A coordenadora de entomologia da SMS, Georgia Medeiros, explica que “esse levantamento é uma ferramenta que ajudará obter informações sobre a dispersão do vetor da leishmaniose, após o encoleiramento”, disse.
Ela ressalta ainda que, após o encoleiramento dos cães da região de intervenção, o monitoramento continuará mensalmente. “Com isso, tomando por base os dados anteriores, bem como a coleta de novos dados nas duas regiões, será possível entender se as coleiras afastam os flebótomos (Lutzomya longipalpis), se fazem eles migrarem de região ou mesmo, se não há mudança do cenário local”, disse.
COMO SERÁ?
A primeira etapa da implementação do Ministério da Saúde é a coleta de sangue dos animais das regiões selecionadas para exames laboratoriais, que irão diagnosticar se o cão é ou não portador da Leishmaniose. Todos esses animais, no ato da coleta de sangue para exame, já receberão a coleira e, o tutor, todas as orientações necessárias para adesão ao projeto.
No entanto, após seis meses, na troca dessa coleira, os animais que testaram positivo para a doença no exame inicial, não receberão uma nova coleira, se limitando apenas aqueles que testaram negativo.
Conforme Alcides Ferreira, coordenador de Endemias da SMS, o objetivo principal é o uso de coleiras impregnadas com deltametrina no combate e controle da Leishmaniose nos cães. “Como essas coleiras são caras, precisamos primeiro verificar o método melhor para conseguirmos ampliar o projeto gradativamente e de forma controlada”, comentou.
Alcides destacou que os exames serão repetidos a cada ano e a troca das coleiras a cada 6 meses com limite de 8 ciclos semestrais para comparar os exames de sangue dos cães protegidos e dos não protegidos com a coleira contra a Leishmaniose.
FASES
Os moradores dos imóveis selecionados terão que assinar um termo de comprometimento para participar e aquele que optar pela não participação, assina o termo de recusa e ciência.
Nos demais bairros, o estudo não será realizado por questão de logística e recursos humanos, sendo que a análise em uma região é o suficiente para gerar dados confiáveis.
Como dito, a pesquisa será dividida em 8 ciclos semestrais, de acordo com a ordem abaixo:
1º visita – Inquérito com coleta de sangue do animal e encoleiramento
2º visita – após 6 meses da anterior – Troca de coleira
3º visita – após 6 meses da anterior – Inquérito com coleta de sangue do animal e troca de coleira
4º visita – após 6 meses da anterior – Troca de coleira
5º visita – após 6 meses da anterior – Inquérito com coleta de sangue do animal e troca de coleira
6º visita – após 6 meses da anterior – Troca de coleira
7º visita – após 6 meses da anterior – Inquérito com coleta de sangue do animal e troca de coleira
8º visita – após 6 meses da anterior – Troca de coleira
REGIÕES ABRANGIDAS
Nesse primeiro momento, a SMS selecionou três regiões utilizando critérios técnicos avaliativos, que levou em consideração casos de leishmaniose visceral (humanos), densidade populacional, questões socioeconômicas e regiões endêmicas para a doenças nos últimos anos.
As regiões são:
Santa Julia – No quadrilátero entre a Avenida Jary Mercante, Rua Milton Lopes de Oliveira (Rua Arapongas), Avenida Ranulpho Marques Leal e BR 158. Essa região tem cerca de 111 cães de acordo com o senso de 2021 e já contabilizou 5 casos de leishmaniose canina nos últimos três anos e 4 casos (sendo 1 recidivo) de leishmaniose humana nos últimos cinco anos.
Sanita Rita – No quadrilátero entre Avenida Antônio de Barros Guerra, Rua Manoel Mendes/Rua Octavio Sigefredo Roriz, Rua Coronel João Filgueiras e Rua João Dantas Filgueiras. Essa região tem cerca de 511 cães de acordo com o senso de 2021 e já contabilizou 55 casos de leishmaniose canina nos últimos três anos e 2 casos de leishmaniose humana nos últimos 5 anos.
Vila Alegre – No quadrilátero entre a Rua Wilson Carvalho Viana, Avenida Julio Ferreira Xavier (Antiga Ponta Porã), Rua Egídio Thomé e Rua Rayldo de Oliveira Gomes. Essa região tem cerca de 366 cães de acordo com o senso de 2021 e já contabilizou 46 casos de leishmaniose canina nos últimos três anos e 2 casos de leishmaniose humana nos últimos 5 anos.
Importante destacar que, apenas as casas internas desses quadriláteros serão atendidas por essa etapa, ou seja, casas que ficam na parte oposta das ruas que demarcam os locais não participarão, ainda, do programa.
O ANIMAL NÃO É CULPADO
É importante ressaltar que o animal em si não transmite a doença para o ser humano e, sim, o mosquito flebotomíneo (Lutzomyia longipalpis), popularmente conhecido por mosquito palha, que ao se alimentar do sangue do animal e, depois, picar o ser humano, faz a transmissão do protozoário da leishmaniose.
“Por isso é tão importante cuidar da saúde do animal, tanto pelo bem do próprio pet, quanto para a saúde pública. A coleira evita que o mosquito venha a se alimentar do sangue do animal e, com isso, corta o ciclo de transmissão da leishmaniose visceral”, explicou Alcides Ferreira, coordenador de Endemias da SMS.