Sinal de alerta ligado para os casos de leishmaniose visceral em Três Lagoas. Por isso mesmo, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) vem intensificando as ações de combate ao mosquito flebotomíneo/flebótomo (mosquito-palha), bem como tende a ampliar as campanhas de conscientização da população que tem hábito de não eliminar possíveis criadouros do vetor em seus quintais.
O alerta não é à toa, pois até o momento foram confirmados 13 casos da doença em humanos, além de 2 óbitos, sendo uma bebê de 1 ano de vida e um homem de 88 anos de idade, em consequência do agravamento do quadro clínico. Do total de confirmados restantes, dois ainda estão em tratamento da doença e os demais curados.
De acordo com levantamento feito pelo Departamento de Endemias da SMS, desde 2017 não se registrava um índice tão alto de casos confirmados da doença. No ano em questão, foram 141 casos notificados, sendo que desses, 14 foram confirmados e 1 óbito foi registrado.
NÚMEROS DA DOENÇA EM HUMANOS AO LONGO DO TEMPO
Nos anos seguintes, 2018 teve 203 notificações, 7 confirmados e 2 óbitos; 2019 registrou 173 notificações da doença, 10 confirmações e 3 óbitos; já em 2020 o total de notificações caiu para 47, sendo 3 confirmados e nenhum óbito e, agora, em 2021, ainda faltando 2 meses para o final do ano, já teve 13 confirmações e 2 óbitos de um total de 18 notificações.
DOENÇA EM ANIMAIS
A leishmaniose acomete principalmente cães e, de acordo com levantamento feito pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) compreendendo os dados de janeiro a setembro de cada ano, em 2019 foram registrados 866 casos da doença em caninos; 2020 pulou para 1005 e 2021 subiu um pouco mais e, até o momento, foram 1.170 cães vítimas da doença.
Everton Ottoni, coordenador do CCZ, ressalta que “é de extrema importância ressaltar que não é o cão que transmite a doença e, sim, o mosquito-palha, logo temos que proteger os nossos animais, seja dando a vacina contra a doença, bem como outras medidas de proteção, como coleira repelente e sempre manter os quintais limpos e livres de focos do mosquito.”
Ainda de acordo com o coordenador, do total de animais confirmados em exames para leishmaniose no CCZ, cerca de 30% são levados embora pelos tutores que optam, ou pelo menos tentam – mesmo que seja a curto prazo – o tratamento da doença, o que diminui, obviamente, o número de eutanásias.
“O tratamento deve ser feito com acompanhamento com um médico veterinário particular. Existe a droga à base de miltefosina para esse tratamento aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA”, enfatizou Everton.
O coordenador do CCZ alerta, ainda, para que os tutores tomem cuidado na escolha do profissional médico veterinário para não entrar em tratamento ilusório que possa ser feito de forma errônea. “Além disso, importante que, a partir do momento que o tutor assume fazer o tratamento do animal, que o faça, pois é um risco manter o animal sem um acompanhamento e controle do seu quadro clínico.”
MAS, PORQUÊ DO AUMENTO?
Conforme o coordenador de Endemias, Alcides Divino Ferreira, não é possível destacar um fator principal para o aumento dos casos. “A leishmaniose é uma doença sazonal e cíclica, ou seja, há períodos de aumento e diminuição dos casos e, por isso mesmo, muitas vezes a causa pode estar ligada a diversos fatores ambientais”, comentou.
No entanto, o especialista diz que fatores socioeconômicos, bem como culturais, colaboram para a propagação da doença, afinal a falta de cuidado com quintais, por exemplo e, consequentemente, mais locais que permitem a procriação do mosquito, colaboram para que mais pessoas socialmente e economicamente menos favorecidas sejam acometidas pela doença.
“Outro fator que talvez colabore, é a colheita das florestas plantadas no entorno da cidade, pois com a extração das matas os mosquitos saem desse local e acabam migrando para a área urbana, onde encontram locais adequados para procriar, além de alimento”, explicou Alcides.
COMO SE PREVENIR?
A doença, como bem se sabe, é transmitida ao homem pela picada de fêmeas do inseto vetor infectado, denominado flebotomíneo, conhecido popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras, birigui, dentre outros. Com isso, pelo menos o básico no combate ao mosquito, boa parte da população está cansada de saber, que é: sempre limpar os quintais evitando deixar matéria orgânica, como folhas e alimentos, exposta e em decomposição.
“Mais que isso, a população precisa entender que a maior vítima dessa doença é o cachorro da casa e, esse estando doente é um risco para todos que ali habitam, afinal, outro mosquito podem picar o anima e, depois, vir a picar um membro da família, transmitindo a doença. Por isso, o uso de coleiras repelentes no animal, bem como manter o quintal limpo e livre de focos é primordial para o bem-estar de todos”, enfatizou e alertou Alcides.
COMO IDENTIFICAR
Em humanos, pode ocorrer do infectado nem apresentar sinais claros, mas é muito comum a pessoa ter febre, perda de peso e inchaço do baço ou fígado. Já em caninos, os sintomas mais comuns são aumento de volume dos gânglios linfáticos (pequenas estruturas que funcionam como filtros para substâncias nocivas existentes em quase todo o corpo humano), crescimento exagerado das unhas, perda de pelo, úlceras e descamação da pele, emagrecimento e atrofia muscular, hemorragias nasais, anemia e alterações nos rins, fígado e articulações.