Carlos Augusto de Castro, de 58 anos, é de Ponta Porã, mas passou recentemente por Três Lagoas, vindo do estado de São Paulo à procura de emprego. Se não conseguir serviço, quer voltar para sua cidade de origem. Não possui capacitação especializada, mas diz que “topa qualquer serviço”.
A história de José Carlos de Oliveira, de 50 anos, de Boa Vista, capital de Roraima (RO), é diferente. Ele sofreu um acidente rodoviário em 1997 e perdeu uma das pernas. Precisou viajar a São José do Rio Preto (SP) para manutenção e ajustes da prótese da perna esquerda. Tem um agravante de saúde que precisa de medicação de uso contínuo para o controle da hipertensão e diabetes. Ao passar por Três Lagoas, nesta semana, além da necessidade de passagem para continuar a viagem de volta para Boa Vista, precisava de local para tomar banho, lavar suas roupas, se alimentar e reabastecer os medicamentos necessários para mais 30 dias.
Parecendo já conhecer os dois há muito tempo, mas companheiros de histórias diferentes que se encontraram na Estação Rodoviária de Três Lagoas, onde passaram a noite, surgiu André Gonçalves dos Santos, de 37 anos, vindo da região do Vale do Itajaí (SC).
Bem falante, André dizia que ouviu comentários em Santa Catarina que, na cidade de Três Lagoas “estava sobrando emprego de tudo quanto era jeito. Por isso, desempregado e sem dinheiro no bolso, arrisquei vir e estou chegando”, contou. Ele garante que possui experiência de açougueiro, garçom, lancheiro e ajudante de cozinha. “Topo fazer o que for preciso”, disse.
Os três são um dos variados e muitos exemplos do movimento diário de atendimento do Centro de Referência para População em Situação de Rua – o Centro POP, mantido pela Prefeitura de Três Lagoas, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, na Rua Protázio Garcia Leal, número 1026, Bairro Santa Terezinha. Só no primeiro semestre de 2017, foram atendidas 1.513 pessoas, com histórias diferentes e com necessidades de atendimento e encaminhamento.
Os exemplos citados são o que, na linguagem do pessoal da Assistência Social, são denominados de “trecheiros”, o que significa que estão de passagem, na busca de algum objetivo, uns com, outros sem destino definido, mas todos querem ajuda para passagem para outra localidade.
Entre as pessoas em situação de rua, estão também os “andarilhos”, aqueles que não se preocupam nem fazem questão de pedir passagem de ônibus. Eles até preferem deslocar-se a pé ou de carona, porque o importante “é ir adiante e não suportam permanecer no mesmo local por muito tempo”.
EQUIPE DO CENTRO POP
A equipe do Centro POP, coordenada pela assistente social, Solange Sanxo de Almeida é que atende a todas essas pessoas, que, de uma maneira ou de outra, em meio a muitas histórias, “tiveram seus vínculos familiares e sociais rompidos e precisam da gente para o resgate da dignidade da pessoa e dos direitos básicos do exercício da cidadania”, observou a coordenadora.
Além do pessoal que realiza o serviço do Plano Individual de Atendimento (PIA), a equipe do Centro POP é constituída por 14 servidores devidamente capacitados para as suas respectivas funções, como assistente social, educador social e psicólogo.
Além do trabalho de rotina de orientação e acompanhamento das pessoas que procuram diariamente o Centro POP, é feito constantemente o serviço de “Abordagem Social, durante o dia e a noite, seguindo um cronograma de serviços, com locais e objetivos definidos e também nas variadas ações de busca ativa”, explicou Solange.
“Podemos afirmar que, em Três Lagoas, não temos moradores de rua, mas temos, constantemente, inúmeras pessoas em situação de rua, pessoas que perderam vínculos familiares”, ressaltou.
“Na Sala de Atendimento Psicossocial, contamos com o dedicado trabalho de uma assistente social e uma psicóloga. Todos que aqui chegam passam por esse atendimento inicial”, informou a coordenadora.
Ela se referiu ao preenchimento do PIA, que pede uma série de informações de identificação e da história do usuário deste serviço da SAS, como, por exemplo, sua “trajetória de deslocamento” até chegar a procurar ou ser encaminhado ao Centro POP.
LOCAL DE PASSAGEM, APOIO E ENCAMINHAMENTO
O Centro POP é local de passagem, de apoio e de encaminhamento da necessidade das pessoas que procuram o atendimento. Para aquelas pessoas que não possuem vínculo nenhum no Município, procuram por emprego, ou mesmo possuem vínculos familiares, mas estão rompidos, a Assistência Social possui o Acolhimento POP, que é uma estadia provisória assistida, até que a pessoa encontre a saída para a solução do seu problema.
“Grande parte do nosso público alvo procura o Centro POP por conta própria, para pedir ajuda ou encaminhamento a quem possa ajudar”, resumiu Solange.
Feita a avaliação da necessidade da pessoa em situação de rua, a equipe do Centro POP, além de oferecer café da manhã, almoço e lanche à tarde, providencia os encaminhamentos necessários, “conforme a necessidade que nos é apresentada”, explicou a coordenadora.
De acordo com a situação que nos é apresentada, “encaminhamos a pessoa para a Saúde, CAPS-AD, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e outros serviços”, informou a coordenadora.
Enquanto permanecem no Centro POP, “oferecemos espaço para higiene pessoal, lavanderia e alimentação. E para terapia ocupacional, criamos o projeto da oficina da horta, graças ao apoio de parceria do Marcelo da Horta da Lagoa”, mostrou Solange, enquanto orientava o pessoal a cuidar dos canteiros de verduras e legumes.
Diretoria de Comunicação